sábado, 21 de janeiro de 2012

Recesso do Blog

Amigas e amigos
Este blog entra em recesso por alguns dias. Estou indo para os navios, 3 cruzeiros dançantes, onde faço parte da comissão organizadora. E férias, porque ninguém é de ferro. Quando retornar envio a chamadinha e espero continuar tendo a honra e alegria de compartilhar com vocês este espaço de opinião íntegro e democrático. Obrigado a todos!
Abraços!

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (6)
A crônica anterior (5) me remete a algumas reflexões sobre os poderes dos veículos de comunicação, impressos e eletrônicos. Como tive a oportunidade de passar por diferentes lugares, de diferentes portes, desde a empresinha de garagem, trabalhando com amigos, até a realmente toda poderosa Globo, pude ter uma idéia muito clara do respeito, temor ou fascínio que exerce sobre o público. A observação mais marcante foi a facilidade de acesso às fontes mais importantes, e por vezes quase inacessíveis, nos diferentes veículos. O repórter era o mesmo, eu. O que mudava era o nome do jornal, revista ou TV onde estava trabalhando em determinado momento. Estrelas do jornalismo que se orgulham das fontes que conseguem colecionar são idiotas. Não percebem o óbvio: não são eles os encantados, e sim os nomes dos veículos onde trabalham. Ou alguém acha que um figurão, interessado em plantar uma grande notícia, faria isso com o “Diário Caixa Prego”, só porque lá agora trabalha seu velho amigo famoso na imprensa... Me poupem. O mesmo Milton Saldanha que conseguiu rápido acesso ao telefone com nomes como Pelé, Ulisses Guimarães, Antonio Ermírio, Setubal, e não sei quantos famosos mais, não conseguiria isso agora se ligasse do seu atual jornalzinho Dance, feito com toda dignidade, mas que não é nenhum O Globo. Isso tem que ficar muito claro para que determinadas estrelas deixem de ser bestas. Os caras pensam que são eles, botam banca, e não é nada disso. Sem um logotipo na frente não representam nada, são meros mortais, como eu e você.
Da minha experiência, o veículo que mais abre fontes não foi nem a TV Globo, nem o Estadão. Foi a revista Veja. Pela qual não sinto especial apreço atualmente, acho decadente, fora determinadas posições que já tomou no plano político realmente desastrosas em termos de bom jornalismo. Mas, sinceramente, nunca vi um lugar tão fácil de trabalhar quando se tratava de ter que ir buscar um determinado famoso para uma entrevista. Quem não atendia na hora, por alguma razão, retornava. Fiquei impressionado com o interesse das pessoas em sair na Veja. A razão disso? Sinceramente, não sei responder. Com certeza são várias. Uma delas, talvez, por retratar a voz e os sonhos da classe média emergente.
   

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (5)
Não lembro mais o assunto que me levou à porta da Cofap, no ABC, tentando ouvir sua direção. Mas era algo com certeza importante, até pelo horário, quase escurecendo. Isso é horário de estar na redação, escrevendo e entrando no pico de fechamento da edição. A informação era quase exclusiva. Digo quase porque logo depois que cheguei no portão da fábrica, tentando contatos, encostou a equipe da Globo. Aí, calculei, só o Estadão e a Globo têm a informação. O repórter global era o Carlos Monforte, ex-Estadão, excelente e renomado profissional. A espera foi se alongando, e a todo momento nós dois cobrando dos funcionários o atendimento de um diretor, se possível o maior manda-chuva da empresa. Durante essa espera fui ponderando ao Monforte sobre as possibilidades que teríamos de fazer a matéria, eventualmente, sem a palavra da empresa. Isso era crucial. O Monforte dava de ombros e me respondia: “Que nada, para a Globo ele fala”. Como quem diz, meu veículo é poderoso. Tá legal... Demorou até que chega um funcionário de gravata, deveria ser algum gerente, e nos informa: “O dr. Fulano vai falar, mas só para o jornal”. Certamente o cara seria daqueles que tremem na frente de microfones e câmeras. Não pude conter um sorriso sacana. O grande Monforte ficou passado. Estava inconformado. Não teve jeito. O executivo deu a entrevista, se não me engano na frente dos dois. Mas gravar que é bom, e isso era indispensável para a TV, nada.  

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (4)
Tudo que é muito fácil não tem graça. O fascínio de ser repórter vem em grande parte disso: vencer desafios. Fazendo uma analogia, é como dançar tango. É difícil pra caramba, a gente leva uns dez anos até pegar o jeito da dança. Se aprendesse em uma semana não teria graça, todo mundo faz. A diferença é que ser repórter é algo que a gente passa a vida aprendendo. E mesmo assim pode quebrar a cara, é normal. Além disso, muitas vezes tem que contar também com a sorte. A simpatia, ou antipatia, que despertar em alguém pode ajudar ou atrapalhar em seu trabalho. Pode mudar tudo. Um simples porteiro, ou guardinha, de repente vira um obstáculo intransponível. Ou uma porta literalmente aberta...
Corria o ano de 1977, final de tarde com garoa, a edição do Estadão entrando em fechamento – o horário, fechar cedo, tinha virado uma obsessão no jornal, por causa do novo sistema de impressão recém implantado e recebendo ajustes – e eis que  acontece um tremendo engavetamento na Via Anchieta, mais de cem carros, no nevoeiro. Avisei a produção da matriz, como a gente chamava a sede, em São Paulo, catei meu Fusca e me mandei em alta velocidade para a rodovia. Eram 18 horas, a ordem era colocar a matéria até 19:30... Dá para imaginar a loucura de trabalhar assim. Quando entro na cabeceira da estrada, já está tudo congestionado. De repente encosta outro Fusca ao meu lado, carrinho branco e preto, da Policia Civil, só o motorista. Pelo jeito ele não tinha nenhuma pressa. Estiquei a cabeça para fora e, quase aos berros, para que me ouvisse, expliquei meu drama. Sua reação foi rápida: “Cola na viatura e me segue!” Ligou a sirene, pisca-pisca, também liguei meu pisca-alerta, e lá fomos nós, abrindo caminho naquele mar de carros, em pleno nevoeiro, o maior perigo. A pressão do trabalho e a adrenalina é de tal forma intensa, que você perde a noção dos seus próprios riscos. É tudo pela matéria, uma paranóia. E se levasse alguma multa era o de menos, só cobrar depois do jornal.
Assim, com a ajuda do policial, cheguei rápido ao engavetamento. Aí outro problema: onde largar meu carro naquela confusão, para ir colher as informações. Na nossa Sucursal do ABC não tínhamos motorista, nessas horas era um problema. E nenhum taxista, que era sempre nossa alternativa, iria topar ir para aquele inferno, numa hora daquelas. Muito menos fazendo as loucuras que fiz. Mas eu tinha uma plaqueta de identificação de “Reportagem”, com o logo do jornal, no parabrisa. Graças a ela os rodoviários me deixaram encostar sobre um canteiro. Desci, peguei informações com eles, apurei nomes e situação das vítimas, entrevistei alguns motoristas envolvidos, etc. E passei a matéria de um orelhão, sob garoa, redigindo oralmente, na marra, para os rapazes que o jornal mantinha na sede só para receber matérias por telefone. Óbvio, ainda não existiam esses confortos de hoje, como celulares, internet, computadores, nada disso. Era tudo na velha máquina de escrever. E no telefone convencional. O máximo em tecnologia era uma pequena tralha chamada BIP, que carregávamos num pequeno coldre pendurado à cintura. Tínhamos que ligar numa central, dar o código do destinatário e ditar o recado. Que por sua vez, ao ouvir seu BIP, ligava na mesma central para retirar o recado... Foi assim que acionei nosso fotógrafo, o Clóvis Cranchi Sobrinho, antes de sair da nossa minúscula redação, em Santo André. Ele foi direto de onde estava para a Anchieta e depois para São Paulo, levando o filme.  
Às 19:30, pontualmente, a matéria estava na redação. E manchete, com fotos, do dia seguinte.
 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (3)
Há muitos anos, conversando com o jornalista e escritor Fernando Moraes, num encontro por acaso no aeroporto Santos Dummont, no Rio, enquanto esperávamos a chamada para embarque ele me contou algumas das suas aventuras como repórter de guerra. Sem nada de heroísmo tolo, falava era do medo que passou. Quando jurou ali mesmo, perto do front, nunca mais pisar numa guerra. Fernando tinha conseguido uma entrevista com um grande líder da guerrilha sandinista, na Nicaragua. Só que não poderia ficar sabendo onde ficava o esconderijo, por razões de segurança. Foi colocado na caçamba de um furgão, com um capuz. Por último, para seu espanto e apavoramento, lhe entregaram uma metralhadora. “Mas eu não sei atirar e não sou guerrilheiro”, protestou. A resposta: “Aqui não se trata de saber ou não atirar, ou de ser ou não guerrilheiro. Se o exército nos atacar, arranque fora o capuz e saia atirando. Será o único jeito de salvar sua vida”. Putz! Fernando me disse que fez apavorado aquela desconfortável viagem, sacudindo em buracos, e só pensando em sua filha pequena. Realmente, que eu saiba, nunca mais voltou em outra guerra.

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (2)
Na crônica anterior contei meus fracassos. A gente aprende mais com eles do que com os sucessos. Mas não pensem que foram só estes. Houve mais, claro. E outros me aguardam, enquanto trabalhar. Por outro lado, quem rolar este blog vai encontrar também minhas histórias de sucesso. Onde quero chegar? Na conclusão simples de que ninguém é diferente de ninguém. Somos todos iguais, nos erros e acertos. O que muda é a capacidade de cada um de entender isso. E a percepção que cada um tem de si próprio. Tenho amigos e amigas, e parece-me isso mais acentuado nas mulheres, que me dão a impressão de nunca terem errado na vida. Elas passam isso, com suas cobranças e por vezes teimosias. Não estou depreciando as mulheres, pelo contrário, há muito tempo acho que na média geral são mais capazes do que nós, homens. Além de mais belas... Quando montei equipes em redações sempre tive mais mulheres do que homens. Ou porque já conhecia o trabalho delas, ou porque nos testes se saiam melhor. E ali não tinha essa história de sofá. Isso nunca foi do meu caráter. Nem delas, minhas colegas de grande categoria profissional.
Fui chefe em muitas redações. Várias vezes contra minha própria vontade, porque sempre amei ser repórter. Mas a direção me queria lá, onde ganhava mais e tinha também suas vantagens, claro. Mesmo assim eu sempre achava uma brecha e saia para fazer matérias. Inclusive para não perder a prática. Por isso sempre tive dificuldade de entender como alguns colegas exerciam chefias sem jamais terem passado pela reportagem... pelo trabalho de rua, da chuva, do frio, do desconforto de esperar algo sentado em calçadas, sem um banheiro limpo por perto, onde havia só botequins. Ou de ter que desvendar uma situação complexa e desafiadora. Ou fazer falar um figurão que se recusava a isso. O gosto maravilhoso de dar um furo, e este tive, não poucas vezes. E vai por aí. Mas chefe que não foi repórter? Que me desculpem, mas sem visão do que é o trabalho de campo ninguém pode desenvolver critérios de cobrança e avaliação. No Estadão, o jornal de maior porte onde trabalhei, havia dúzias de editores que nunca foram repórteres. Sempre achei isso uma falha grave. Os caras deveriam no mínimo ter feito um estágio na reportagem, antes de sentar em suas confortáveis cadeiras. E assim, no caso de alguns, teriam aprendido a respeitar mais seus repórteres. No Estadão, com muito orgulho, fui chefe da conceituada Sucursal do ABC, onde montei minha própria equipe, aproveitando também pessoas que lá já estavam. Foi um dos períodos mais ricos da minha carreira, acompanhando todo o surgimento do movimento metalúrgico, com suas grandes greves, e o surgimento do Lula. A equipe tinha alto espírito competitivo, queria dar banho na concorrência, e quase sempre conseguia. Sobre a Folha de S.Paulo, então, era uma festa, porque eles sequer tinham uma sucursal lá, como a nossa. Infelizmente, porque isso teria sido muito bom para o mercado de trabalho. Tinham que mandar gente da sede, na Capital, que não conhecia a região e seus segredos. A exemplo de todos os chefes anteriores da sucursal, entre eles os excelentes jornalistas Dirceu Pio e José Maria Santana, também dobrei função, sendo chefe e repórter. Porque a gente decidia assim, ninguém mandava.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Jornalismo

Durezas da vida de repórter
O grande problema do jornalismo é que quando a pessoa começa a aprender, já está na hora de se aposentar. Nunca vou esquecer daquele dia em que eu, ainda foca, na Última Hora, tendo Samuel Wainer como diretor, recebi a tarefa de cobrir no Tribunal Regional do Trabalho um dissídio coletivo. O problema é que eu não tinha a mínima idéia sobre que bicho era esse. E, como faria qualquer foca, não confessei a ignorância à chefia. Fui para o tribunal e, na raça, só lá, entendi tratar-se de questão judicial em conflito salarial de uma categoria com os patrões. Contando assim parece tudo simples. Só que vocês não imaginam a tensão que é ir de encontro a uma tarefa, tendo que fazer perguntas, e sem saber do que se trata. Vários anos depois, numa passagem rápida que tive pela revista Veja, na editoria de economia, vi um colega que eu havia indicado para uma vaga em apuros ao receber uma pauta sobre... Debêntures. Cacilda! Ele não tinha a menor idéia sobre o assunto, nem eu. Pegou a pauta, com cara de mestre em debêntures, na maior naturalidade, e foi se virar. O que se faz num caso assim? O primeiro passo é o dicionário. O segundo, achar um especialista em finanças que traduza mais ainda o abacaxi.
Dá para chamar um repórter de geral, que nunca sabe o que o espera para aquele dia na redação, de ignorante? Só quem se imaginar uma enciclopédia ambulante. Então a gente aprende que o grande repórter é aquele que está disposto a aprender algo novo todos os dias. Sendo humilde para dizer que não sabe, mas quer e precisa aprender. E, com os anos, ele vai acumulando uma bagagem de informações gerais, e experiências, que lhe permitem tratar, talvez até com desenvoltura, de qualquer tema. Sem ser especialista em nenhum.
Mesmo assim, no cotidiano, o jornalista apanha a vida inteira. Um dos maiores constrangimentos que já passei foi num final de carreira, quando eu já estava nesse estágio acima descrito, mas não a ponto de ser mágico ou super-homem. Eu editava o Jornal do Economista, do Conselho Regional de Economia, e a queima roupa o presidente me jogou numa enrascada: ir ouvir na hora um professor da USP, especialista nem lembro mais em que. Ora, o jornal era mensal, havia tempo. Eu costumava literalmente estudar para as entrevistas, geralmente até comprando livros sobre os temas propostos. E tomava o cuidado de preparar um amplo questionário, que usava como esqueleto do meu trabalho. Mas chegar subitamente numa pessoa que eu nunca tinha visto, para tratar de um tema idem... Foi barra. Aí não teve jeito, tive que chegar no cara e abrir o jogo. Havia duas possibilidades: ele ser uma pessoa legal e me ajudar; ou ser arrogante e me triturar. Está aberta a bolsa de apostas. O que vocês acham que aconteceu? Vamos lá: a segunda hipótese. O cara só falou: “Você vem me entrevistar e não sabe nada?” Fiquei com a cara no chão, morrendo de vergonha, humilhado. Pedi desculpa e fui embora, agora para enfrentar meu presidente estúpido, que suponho queria era me ferrar. Menos de uma semana depois o tal professor me telefona e pede desculpas, convidando-me para conversar. Recusei. E recusei porque percebi, ou imaginei, sei lá, que o arrependimento dele não era um ato de generosidade e sim a percepção de que tinha perdido precioso espaço num jornal muito importante no seu meio profissional, com tiragem de 25 mil exemplares, que chegava pelo Correio nas mãos de todos os economistas do Estado de São Paulo.     
 Assim, amigos, é a escola da vida e das profissões. Uma pancada aqui, outra ali, mas também uma vitória aqui, outra ali. Ninguém, jamais, está totalmente “pronto”. Mesmo que finja estar.
   

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Tragédia do Concordia

Jornalismo sem bom-senso
Há momentos em que falta percepção da realidade no jornalismo. Neste triste episódio do Costa Concordia, por exemplo, não custaria nada aos grandes jornais contratarem um oficial de marinha mercante aposentado para dar consultoria à redação. E com isso evitar a publicação de absurdos. Um caso bem típico é uma nota no Estadão de hoje. Uma madame, certamente querendo aparecer, disse ter visto pouco antes do acidente o comandante bebendo num dos bares do navio, com uma bela mulher. Vejam bem, aqui não estou entrando em apreciações se o comandante teve ou não culpa, isso é outro assunto. O que quero chamar atenção é para a falta de cabimento da nota. Quem escreveu e quem editou com certeza nunca pisou num navio. Não tem pálida noção da vida de bordo. Nem das múltiplas funções de um comandante de cruzeiro turístico. A vida social com os passageiros faz parte da sua agenda oficial. Tanto que até existe um grande coquetel, elegante, para fotos, brindes, cumprimentos. E nenhum comandante passa 24 horas por dia na ponte de comando (a sala onde se opera a embarcação). Existe um staff de oficiais, que se revezam nas atividades técnicas. Cito o detalhe para condenar o linchamento prévio de uma pessoa que ainda sequer teve a chance de se explicar publicamente e que vive um drama em sua vida inimaginável. Vamos supor, pois ainda falta provar, que o comandante de fato tenha errado. Com 30 anos de carreira, enterrou sua vida e carreira, sendo massacrado sem piedade. E façamos um exame de consciência: quem de nós, dentro das devidas proporções, algum dia não errou? Caramba, ele pode ter consultado um carta náutica incompleta, onde não aparecem as pedras, e foi a única coisa que comentou até agora. Pode ter agido de forma impulsiva e saído da rota obrigatória. Pode ter ocorrido uma pane nos equipamentos. As hipóteses são múltiplas. E, se errou, ele já está pagando por seu erro, e certamente será condenado. Isso não está em discussão aqui. O que me deixa perplexo é esse sensacionalismo irresponsável que permite a divulgação de uma asneira como essa dita pela tal madame. Qualquer um pode ficar revoltado contra o comandante, é até natural que isso aconteça. Só não tem o direito de passar dos limites. Até porque isso mostra que todos erram.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Mobilidade em águas, terra & ar

A segurança dos navios
Por favor, não tomem o que vou contar aqui como exibicionismo medíocre e infantil. Mas preciso contar, para fundamentar minha tese: devo ter feito ao longo da minha vida, desde 1954, quando aconteceu a primeira, cerca de 40 viagens em navios, se não for até mais. Tanto em rotas nacionais como internacionais, incluindo uma fluvial, pelo Reno, na Alemanha. E fui editor e repórter de náutica na revista Motor 3, da Editora Três, por três anos, quando tive a oportunidade de me aproximar muito do setor de pequeno porte e recreação. Isso para dizer que não conheço meio de transporte mais seguro que o navio e outras embarcações, de modo geral. Desde, claro, que se respeite o mar e os limites humanos. E se apegue às regras de segurança com disciplina e rigor prussiano.
Comparando a segurança naval com a segurança aérea, ferroviária ou rodoviária será um banho estatístico na sustentação da minha afirmação, tão óbvio que dispensa apresentar números. Nas rodovias não passa um único dia sem muitos acidentes. Nos mares, são tão raros que geram comoção e vão parar no noticiário mundial. Além disso, as chances de sobreviver e sair ileso de um acidente naval são infinitamente maiores do que em qualquer outro meio de transporte. Num carro, por exemplo, os danos humanos e materiais são tão brutais, que se as pessoas refletissem um mínimo sobre isso dirigiriam o tempo todo com velocidade moderada e extrema cautela. E as fábricas deveriam ser proibidas de vender carros de alta performance e de fazer propaganda com esse argumento. Porque isso estimula a barbárie do trânsito.
Os navios atuais são tão ou mais informatizados que os grandes aviões, equipados com instrumentos de navegação sofisticados e de alta precisão. Tudo é possível prever, até mesmo uma tempestade ocorrendo a quinhentos quilômetros de distância. E os navios trafegam sobre rotas específicas, de grande profundidade, as mais seguras, como se fossem estradas sobre o mar. Há centenas de leis internacionais que regulamentam esse tráfego, senão seria um caos. Um simples Arrais Amador, que vai pilotar um barquinho de pesca em enseada, tem que fazer curso e exame, para obter a carteira da Marinha. Imaginem então o que é a preparação de um capitão de longo curso, para embarcações de alta tonelagem. As escolas navais são de nível universitário, muito puxadas, com teoria e prática.
Mas em tudo há o fator humano. É o que me intriga profundamente no acidente do Costa Concordia, que ocupou inteiro a capa da edição especial do meu jornal Dance nº 170, de janeiro/fevereiro de 2010. Nele realizamos a sétima edição do cruzeiro Dançando a Bordo, uma festa fantástica e de grande repercussão na dança de salão brasileira e internacional. O Concordia, belíssimo, é um dos navios mais avançados do mundo. Habituado a viajar todos os anos nos navios da Costa Cruzeiros, posso assegurar que seus oficiais são de altíssimo nível técnico. E que a segurança de todos a bordo está sempre em primeiro plano. Nas portas das cabines há instruções de segurança; o treinamento da tripulação acontece com freqüência; o dos passageiros, obrigatório por lei, em todos os cruzeiros; há lanchas com propulsão própria e abastecidas com água e mantimentos não perecíveis, para o caso de emergência; o público não tem acesso a locais de risco; casas de máquinas, por exemplo, não podem ser visitadas; ponte de comando só em grupos organizados e autorizados; há coletes salva-vidas em todas as cabines, inclusive para crianças; bóias salva-vidas em todas áreas externas; em operações de abastecimento é proibido fumar, incluindo as áreas externas previstas para isso. Enfim, a segurança está presente em tudo, o tempo todo.
Ah, se é assim, como encalhou e adernou o Costa Concordia? É  que todos estamos ansiosos por saber, principalmente quem conhece bem a alta tecnologia e segurança desses colossos dos mares. É cedo ainda para conclusões, afirmações e acusações precipitadas. Precisamos esperar a investigação e o inquérito, já em processamento. Lamentar pelas vítimas independe de qualquer conclusão. Isso é a única coisa que não tem preço. A dor de suas famílias merece integral respeito e solidariedade.    
O que desejo apenas é tranqüilizar meus amigos, dançarinos ou não, que em breve estarão a bordo. Eu ficarei 26 dias, em três navios diferentes, a partir de 22 de janeiro, e estou absolutamente tranqüilo. Nem poderia ser diferente, com a experiência que acumulo.
Riscos? Caros, isso existe até caminhando no quarteirão de casa: você pode torcer o pé, ser assaltado, pisar num bueiro de tampa solta, ser atropelado por um motorista bêbado, como tem acontecido até com freqüência. Viver é um risco permanente. Nem por isso vamos transformar isso numa neurose e nos condenarmos ao confinamento doméstico. Onde você pode esquecer o fogão a gás ligado e explodir...
Não sejamos trágicos, nem irrealistas. Nem fantasiosos, nem dramáticos além do razoável, entrando na canoa do sensacionalismo. Tudo que se move tem sempre algum risco. Até da minha cama ao banheiro, onde com sono já bati o pé e quase fraturei o dedão. Nem por isso deixarei de dormir, nem de ir ao banheiro.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Drogas

Pegaram a turma da Cracolândia.
E quando vão pegar os outros?
Até dá a impressão que o Brasil das drogas está todo concentrado ali na Cracolândia, na região da Luz, em São Paulo. Nada contra as ações para restaurar a cidade e a dignidade perdida daqueles infelizes do crack. Mas tenho uma pergunta: e o que será feito para acabar com as drogas no meio da classe média alta, em cidades como Brasilia, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e outras do mesmo porte? O que será feito para acabar com as drogas nas universidades públicas e privadas? No meio publicitário? Nas redações dos grande jornais e revistas? Nas TVs? Nos palácios e mansões? Nos shows de rock? Em Brasília, todo mundo comenta que corre droga no prédio do Congresso. Ou alguém vai ser cínico a ponto de afirmar que é mentira e isso não existe? Aliás, é essa classe média que, com seu alto consumo, sustenta para valer o tráfico, portanto o crime organizado. Porque se depender de muita gente chamada de careta, entre as quais me incluo, os traficantes e os bandidos a serviço deles morrerão de fome, por falta de clientes. No jornalismo, por exemplo, são conhecidos vários figurões viciados em cocaína. Nem sob tortura eu citaria nomes, mas que eles existem, ah disso não tenham dúvidas. Um deles, muito conhecido, numa grande redação, todo mundo sabia quando ia para o banheiro dar uma cheiradinha. Depois esses caras vão participar de entrevistas e mesas redondas que discutem o combate às drogas. O sujeito precisa ser muito cara de pau. Isso apenas reflete a hipocrisia generalizada. O problema da Cracolândia, diferente das mansões e palácios, é que ela é habitada por miseráveis, fede a urina e fezes. É repugnante.
Os figurões e madames do pó vivem em locais com odor de jasmim. Seus carros são belos, protegidos por blindagem e vidros pretos. Sua roupas são caras. Só que, por dentro, na cabeça e nos atos, em nada diferem daqueles miseráveis da Cracolândia, tratados na porrada, como se isso fosse solução, e como se eles fossem os únicos.


Visitas ao blog

Obrigado leitores!
Hoje este blog ultrapassa 2 mil visitas de leitores. Levando em conta seu pouco tempo de vida vale festejar. Principalmente por não ser um espaço de futilidades e fofocas. Aqui podemos até ser irreverentes em alguns momentos, mas jamais levianos, muito menos débeis mentais. É melhor ter 2 mil leitores de alta qualidade do que 2 milhões de imbecis. E é melhor não registrar nenhum comentário de leitor do que apresentar duzentos forjados pelo próprio autor, como já vi acontecer muitas vezes.
Obrigado e abraços a todos!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Agressão na USP

Punição ou prêmio
ao sargento truculento?
A “punição” imposta ao truculento e racista sargento PM André Luiz Ferreira sugere duas reações nas pessoas: rir da piada, ou chorar a impunidade deste país. As cenas filmadas dizem tudo e dispensam muitos comentários: o sargento, despreparado para a profissão, chega a sacar o revólver contra um jovem desarmado, indefeso e fisicamente em desvantagem. Ou seja, além de tudo, o sargento é covarde. Será que para enfrentar bandidos ele demonstra a mesma destreza? E se a arma dispara acidentalmente e mata o estudante ? Fica evidente que esse militar insano não pode andar armado nem exercer funções de policiamento ostensivo. Mas tirar o militar das ruas e colocar em função burocrática me soa como prêmio e não punição. No escritório ele vai ter uma confortável cadeira, cafezinho, banheiro, talvez até ar condicionado. Nas ruas, ao contrário, terá as tensões e riscos inerentes à profissão e todo o desconforto de trabalhar a céu aberto. Depois da brutalidade e do racismo explicito, o sargento deveria estar preso, respondendo a inquérito. Quem paga a PM é a sociedade. Para sua proteção e não para seu massacre. Sem punição, outros policiais despreparados estarão estimulados a cometer arbitrariedades, agredindo pessoas indefesas, como foi o caso.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dinheiro mal empregado

BBB, o lixo do lixo
Algumas vezes, na Bahia, encontrei jovens compositores-intérpretes tocando em botequins, por cachês irrisórios, e... apresentando verdadeiras obras primas. Jovens de grande valor musical, criativos, emotivos e sobretudo teimosos, insistindo na carreira difícil, quando há tantos concursos públicos...
Então quando vejo a bela grana que a Globo usa para premiar esse lixo do lixo chamado BBB, sempre me ocorre que esse dinheiro poderia ser usado num concurso de revelação de novos talentos da MPB. Ou das artes plásticas. Ou da literatura. Ou de qualquer outra coisa construtiva, ensejando oportunidades a artistas de grande valor.
Mas não é assim. Eles continuarão anônimos, lutando e perambulando pelos botequins periféricos. Nem quero comentar o BBB, que jamais me dou à perda de tempo de ver sequer por um minuto. Falar mal daquilo é fácil e óbvio demais. O que mais insulta a inteligência é a multidão que segue o lixo. É desolador.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Poder X Povão

Linguagem a serviço da sacanagem
A língua, por mais bela que seja, é também um instrumento de opressão dos poderosos. Os exemplos mais visíveis e próximos da nossa realidade estão na linguagem jurídica e do mundo dos negócios, principalmente economia e finanças. Tente entender determinadas sentenças de juízes, ou a terminologia rebuscada que advogados adotam numa simples petição. Será um desafio. Ou tente entender a linguagem de certos economistas e financistas. Estes últimos, a serviço da roubalheira dos bancos, criam termos tirados de Marte e que vão parar em seu extrato bancário. Você lê e não entende no que o banco está roubando um simples real, que ninguém reclama porque fica mais caro fazer isso, e que quando somado aos milhões de correntistas será traduzido em bilhões de reais. É o financês a serviço da pilantragem sem fiscalização e sem controle do Banco Central. Ora, caberia ao Banco Central criar uma terminologia simples, que qualquer pessoa entenda, e de uso obrigatório por todos os bancos. Sim, cada banco cria seu financês, e aí a confusão na sua cabeça só aumenta. Nesse uso abusivo da linguagem há também coisas cômicas. O melhor exemplo é na área de seguros. Aquela prestação que você paga eles chamam de prêmio. Só pode ser piada. Prêmio a quem, cara pálida? Trabalhei muitos anos na imprensa como jornalista de Economia. Tive que ler muito sobre isso. E sempre gostei de comparar dois economistas: Celso Furtado e Delfim Netto. Celso Furtado, a serviço do povo, usava uma linguagem de clareza total. Qualquer modesta dona de casa pode entender seus livros, que nem por isso deixam de ser completos e abrangentes. Já o Delfim Netto, eternamente a serviço dos ricos, usa uma linguagem rebuscada e inacessível aos mortais. Ou seja, enrola. E assim encobre todas as sacanagens da máquina capitalista. Nada, em economia e finanças, seria incompreensível se não existisse essa linguagem complicada. O problema é descomplicar: todo mundo fica sabendo como e onde é roubado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Crendices

O diabo
O episódio contado por minha amiga Lúcia Sauerbronn, brilhante escritora e jornalista, mestra na arte da crônica, me fez lembrar dos tempos em que eu acreditava em demônio. Isso foi em 1953, faz tempo pra caramba. Eu era criança, estudava em colégio de freiras, atrasadas como só elas, e ficava olhando aqueles catecismos coloridos onde havia figuras do capeta. Chifres (algo que se tornaria cada vez mais comum na humanidade), rabo que terminava em três pontas, bundinha avantajada, um cabelinho ralo, patas de boi, todo vermelho. O bicho era realmente feio. Havia também cenas do limbo, um lugar inóspito, com umas chaminés plantadas no solo e que nunca entendi para o que serviam (certamente escoavam fumaça do inferno, logo abaixo). Havia o purgatório e depois o inferno, com chamas altas e muita gente com expressão desesperada ali ardendo. Isso tudo, vejam bem, para crianças. Não eram umas gracinhas essas freiras e padres que nos distribuíam isso?
As freiras nos explicavam que o diabo estava sempre por perto, a espreita, aguardando uma oportunidade para nos ferrar. Então quando eu estava trancado no banheiro me tocando, experimentando as primeiras e naturais sensações da sexualidade, de repente me dava conta que o diabo poderia estar ali me espiando. Meu pintinho duro, um grande pecado, deveria ser obra dele, com letra minúscula, claro.
Diabo, demônio, satanás... Com seus vários nomes aquele bicho invisível, no meu imaginário, estava em toda parte. Só que havia também o anjo da guarda. Pô, eram dois invisíveis olhando minhas sacanagens. Como a tentação sempre vencia, eu acabava concluindo que o diabo era o mais forte.
Tudo fazendo para nos dominar pelo medo, as freiras tinham atingido seu objetivo. Não estou brincando, é verdade, por um bom tempo eu sofri com esses temores. O que me salvou foi a cabeça esclarecida do meu pai, que conversava muito com toda a família, gostava muito da prosa, foi seminarista, pegou horror a padres e se tornou espírita. Meu pai foi nos explicando que aquilo era tudo mentira. Ufa!
Hoje fico pensando: como é possível que alguém, em pleno ano 2012, com tanta tecnologia, é capaz ainda de acreditar em coisas tão medievais e tão infantis?
Realmente, para a mente humana não existem limites. Para cima, ou para baixo.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Educação

Criança prodígio. Que crime.
Tenho horror a crianças geniais, que pulam a infância e se tornam “adultas” antes do tempo. Pior é quando os próprios pais incentivam isso. Conheço um caso, e sempre me incomoda. É um casal de dançarinos de salão que coloca a garotinha a dançar nos bailes dos adultos. O cara fica dançando com a menina, ensinando passos, tentando criar uma artista, é óbvio. E assim transfere suas fantasias e frustrações, já que ele próprio não conseguiu isso, para a pobre criança.
Certa vez, num festival de dança em Floripa, fiquei estarrecido com a presença de uma garotinha, realmente muito pequena, que se vestia como as moças, inclusive com salto, maquiagem, etc. E dançava como as moças. Uma coisa chocante. Porque uma criança assim perde sua infância. E corre o risco de viver experiências sexuais prematuras, antes do tempo, com tudo de ruim que isso possa lhe acarretar no futuro. Não se trata de moralismo. Apenas não se pode esquecer que tudo tem seu tempo, e quando feito de forma adequada trará felicidade e não traumas.   
Hoje os pais adoram criar pequenos gênios. E dê-lhe curso de inglês, música, judô e o escambau, fora as aulas normais que a criança já tem que freqüentar. O monstrinho começa a achar que é realmente um gênio e fica insuportável. Quando adulto, caindo na real de que não é nada disso, vai sofrer.
Por favor, deixem que as crianças vivam a infância total, com alegria, com as brigas normais, com os pequenos acidentes e arranhões. Enfim, com o aprendizado das suas próprias vivências e experiências. Estas serão felizes e mentalmente saudáveis.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Religião

Abuso e ilegalidade
nas TVs e rádios
O que mais chamou minha atenção na recente entrevista de Boni no Roda Viva, da TV Cultura, foi este comentário: as TVs não poderiam estar vendendo espaço para uso religioso. Porque são uma concessão do poder público, e a lei não permite isso. Boni, uma autoridade no tema TV, falou. Mas infelizmente os entrevistadores se fizeram de surdos, pularam rápido para outro tema. Claro, ninguém quer se queimar, porque amanhã pode precisar de emprego... Quase tudo, em rádio e TV já está nas mãos de padres e pastores.
Boni, que nunca foi nenhum radical em nada na vida, apenas se dedicou muito e apaixonadamente ao trabalho, tocou numa questão crucial. Mexeu na ferida.
Edir Macedo, por exemplo, além de já contar com sua Record e com espaço na Gazeta, está tentando, faz tempo, ocupar horários no SBT. Nas demais TVs, na madrugada, nem filme existe mais, só se vê pastores pregando. Ou seja, as TVs estão sendo cada vez mais transformadas em extensões eletrônicas das igrejas, quando deveriam isto sim cumprir sua função social, educativa, e também de entretenimento.
Mesmo sendo ateu, assumido e sem medo de me declarar, nada tenho contra as religiões. Se quisessem proibir alguma eu seria o primeiro a protestar junto com eles. Todas devem ter o direito de existir e precisam ser respeitadas. Mas para isso existem os templos. As pessoas vão lá, espontaneamente, seguindo suas opções e exercendo sua liberdade de culto. Essa invasão ilegal das nossas casas, através da TV, é que não tem fundamento. Inclusive erra a TV Cultura, estatal, quando transmite missas. O que não falta por esse país inteiro é templo católico. Qual o sentido de ainda incluir missas na TV? O Estado é laico, não existe religião oficial desde o fim do império. O mesmo se aplica aos evangélicos. Há igrejas por toda parte. A TV não tem que cumprir esse papel, sua finalidade é outra.
O que se vê, na realidade, é uma briga de marketing. Todas querem convencer, algumas até pela intimidação dos ignorantes. E usam a TV para isso. Esse abuso teria que ser proibido. As pregações podem ser feitas livremente em praça pública, como já acontece; dentro dos templos; através de jornais próprios de cada religião, etc. Mas usar TV e rádio é um absurdo, porque religião é uma questão pessoal de cada um, de consciência e liberdade. Não pode ser empurrada goela abaixo, nem vendida como sabonete. Muito menos com chantagens emocionais, como essas que vinculam dízimos à obtenção de graças divinas. Isso é crime contra a boa fé popular, previsto em lei.
O Congresso não vai peitar essa questão, porque daquilo lá nada se espera. Além de que já existe até bancada evangélica, outro absurdo, que denota um projeto de poder. E se esse poder crescer eles vão impor ao conjunto da sociedade todos os seus dogmas e princípios, de forma ditatorial.
Volto a repetir: defendo o direito de existir de todas as religiões, inclusive porque não existe povo de Deus. O rebanho mundial é um só. Mas nenhuma pode impor seus princípios a todos, nem burlar as leis ostensivamente, como ocorre. Muito menos invadir a privacidade dos nossos lares contra nossa vontade.
 

domingo, 1 de janeiro de 2012

Privatizações

“A privataria tucana”
Estou nas primeiras páginas e já estarrecido com as revelações do livro “A privataria tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Quem não leu, ou não está lendo, deve ir correndo comprar. Ele conta, com documentos que acumulou em dez anos de investigação, todas as sacanagens do processo de privatização promovido por FHC e Serra. Chamar isso de escândalo é muito pouco. Os caras detonaram com o patrimônio público brasileiro, a preços de banana, e com financiamentos do próprio Tesouro e moedas podres, via BNDES.
Serra e FHC não respondem a nada (documentado) que está no livro. Até agora se limitaram a tentar desqualificar o autor e a chamar o livro de lixo. Isso me deixa claro que não contam com argumentos para desmentir, simplesmente apelam para o chute nas canelas.
É inacreditável também a baixaria da luta pelo poder dentro do próprio PSDB (no PT e demais partidos não é diferente). Serra, por exemplo, colocou arapongas para investigar a vida amorosa de Aécio Neves. Não sou eu falando, por favor, está tudo no livro, até com os nomes dos arapongas.
Amaury Ribeiro Jr é detentor de 3 prêmios Esso, 4 prêmios Vladimir Herzog, e já trabalhou em O Globo, revista Isto É, Correio Braziliense, Estado de Minas.
Voltarei ao assunto brevemente. Por enquanto fica a sugestão: leiam o livro. Vale a pena.