terça-feira, 19 de junho de 2012

Acordos

Os dois Lulas e Maluf

Quando conheci Lula, em 1978, ele era ainda um quase obscuro líder sindical, no ABC, que repudiava política convencional e assumia com indiscutível coragem a defesa dos interesses corporativistas dos metalúrgicos. Vale lembrar que a ditadura militar ainda existia e que as greves eram proibidas, exceto para casos de falta de pagamentos pelos patrões. Eu era chefe de redação e repórter da Sucursal do ABC do grupo Estado (Estadão, Jornal da Tarde, Agência Estado e rádio Eldorado).
Se alguém, em delírio, perguntasse para aquele Lula sobre uma provável aliança com Paulo Maluf, certamente receberia como resposta um palavrão. Isso soaria como uma ofensa.
O Lula de hoje, sem qualquer escrúpulo quando se trata de conquista do poder, sai em fotos sorrindo e trocando abraços com malufs, collors, sarneys e outros mais de ampla folha corrida policial.
O Lula do passado, que não existe mais, me passava autenticidade. O atual, que se deixou corromper nos princípios por puro projeto de poder e conveniências do momento, é outra pessoa. Ficou mais simpático. O de antes era mais carrancudo e mal humorado. Ou, digamos, ficou mais vaselina. Aprendeu que cara feia não rende votos. Tornou-se um ator. Representa um personagem. O verdadeiro Lula já morreu, faz tempo. Mas de vez em quando seu fantasma, no íntimo e na solidão, deve assombrar o que sobrou. Seu ex-inimigo e agora aliado Maluf é que jamais mudou. A cara de pau foi e será sempre a mesma.