domingo, 11 de dezembro de 2011

Livros & autores

A escritora argentina Ana María Navés foi agraciada dia 1º de outubro, em Buenos Aires, com o prêmio literário “Estampas de Buenos Aires”. É a primeira vez que se outorga essa honraria por um livro de tango. Ela é autora de “Desde el Alma”e acaba de lançar “Homem Tango Mujer”, que tem este prólogo (em espanhol) assinado de forma inédita por um brasileiro, eu.

Ana María afasta o véu da face do tango

Nós, tangueiros não argentinos, sempre tivemos grande curiosidade sobre as sutilezas, nem sempre perceptíveis, que envolvem a cultura dos bailes de tango, as tradicionais milongas de Buenos Aires.
Os verdadeiros tangueiros estrangeiros costumam visitar a capital argentina para bailar, aprender e ver tango. Europeus, asiáticos, norte-americanos e de outras regiões enfrentam as dificuldades das longas distâncias e dos altos custos. Mesmo assim são comuns na cidade. Já os vizinhos, como os brasileiros, com as vantagens da pouca distância e menores custos, podem pisar em solo portenho com grande freqüência. Posso assegurar que os mais assíduos são os tangueiros. É o meu caso, contabilizando mais de 30 viagens a Buenos Aires desde 1972, quando visitei a cidade pela primeira vez. Isso se intensificou a partir de 1994, quando fundei o jornal Dance, especializado em dança de salão, e hoje conhecido em todo o Brasil e até no exterior.
Nem assim, contudo, nos arriscamos a dizer que conhecemos com intimidade a cultura milongueira portenha, que o Brasil tenta o tempo inteiro imitar. Na nossa visão, reduzida pela barreira do idioma e da falta de vivência cotidiana, tende a prevalecer o estereotipo. Não raro, pecamos pelo excesso de idealização do baile de los hermanos, como se tudo o que acontece nas pistas de danças argentinas fosse perfeito. Todos sabemos que a realidade não é bem assim, por mais que as milongas sejam maravilhosas.
Os livros de Ana María Navés – primeiro “Desde el Alma”, e agora esta obra “Hombre Tango Mujer” – quebram esse paradigma. Com seu texto afiado, repleto de sinceridade, coragem e perspicácia, Ana Maria nos desvenda a milonga. Ela retira o véu que encobre a verdadeira face do baile e dos seres humanos ali imersos na fantasia tangueira. Não é cruel nem generosa. É franca. Vai direto ao ponto. Lança provocações à espera de reações críticas que promovam a evolução das relações sociais. E que despertem as pessoas do sonho utópico e da ilusão para um ideário menos frustrante quando colide com a realidade, esta sim pouco mutável.
Ler Ana Maria é penetrar nesse baile que até então nos parecia tão sedutor e ao mesmo tão misterioso em suas nuances do comportamento humano. É um passo para começar a entender o garanhão em busca de presas; o homem sincero e verdadeiro e o blefe; as mocinhas e senhoras que nos espreitam com seus olhares ora explícitos, ora indecifráveis; os grandes dançarinos e aqueles que esperam algum dia ser como eles; enfim, a alma tangueira, com suas fraquezas e grandezas.
O mundo do tango é cercado de fascínio. Ana Maria Navés fotografa isso com palavras e nos brinda com mais uma obra imperdível, destinada a nos fazer pensar. E principalmente a crescer como bailarinos e como seres humanos.     

2 comentários:

  1. Caro jornalista Milton Saldanha!
    Você sabe informar se já tem previsão do lançamento de uma edição brasileira do livro que você prefaciou?
    Caloroso abraço! Saudações tangueiras!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Caro amigo João Paulo: o livro não terá versão em português. Os interessados podem encomendar diretamente com a autora, através deste e-mail:
    anamarianaves@yahoo.com.ar

    Abraço!
    Milton Saldanha

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