sábado, 12 de novembro de 2011

Museu Oscar Niemeyer

35 mil metros de emoção a cada centímetro

Curitiba possui um tesouro que todos os brasileiros precisam conhecer. É muito fácil de achar, tem preços populares, e se chama Museu Oscar Niemeyer. Não é um museu qualquer. Enquanto você visita vai sendo surpreendido a cada momento, envolvendo-se em grande emoção.
Ali funcionavam repartições burocráticas do governo do Paraná. O conjunto foi totalmente reformado, com projeto de Oscar Niemeyer, este nome que orgulha o Brasil, por suas obras aqui e em muitos outros países.  
São 35 mil metros quadrados de emoção a cada centímetro. Hoje, abriga exposições de pintura, desenho, escultura, design, fotografia, maquetes, etc., com dois acervos, um sempre temporário e outro permanente. Este último fica alojado no popularmente chamado “Olho”, uma fantástica torre apoiada por uma coluna em forma de parede, que contrasta em porte com a impressionante leveza que transmite. O “Olho” parece flutuar no ar, como uma nave branca que ali estivesse pairando e espreitando a cidade. A inspiração foi na copa da araucária, árvore típica do Paraná, mas o povo, sempre imaginativo, passou a chamar como “Olho”. Síntese de toda a genialidade de Oscar Niemeyer, esse humanista de incrível simplicidade e generosidade, hoje reverenciado pela arquitetura mundial.
Visitar o museu vale a viagem a Curitiba. Nem que seja só para isso. Se o conjunto arquitetônico estivesse vazio já seria, por si só, uma imperdível atração. Com seu conteúdo, torna-se cativante passeio da alma pelas profundezas dos sentimentos mais edificantes e que fazem a vida e o mundo valerem a pena. A defesa do homem e dos princípios que devem reger suas relações estão presentes literalmente nas paredes deste santuário da cultura brasileira. É como um templo que prega em seus escritos e obras a redenção dos oprimidos, fazendo a denúncia da violência, das guerras, ditaduras, fome e miséria. A arte engajada, com seu compromisso único de ser agente de transformação social, mas nem por isso piegas, explicita e óbvia.
Serão inesquecíveis as emocionantes imagens que lá captei: é preciso buscar nos olhos das figuras esquálidas retratadas por um pintor como o equatoriano Guayasamín (1919-1999), por exemplo, a milenar dor legada pela civilização pré-colombiana depois do seu massacre pelo colonialismo ibérico. Em seus traços de gênio da pintura e do desenho, amado por Pablo Neruda, de quem era amigo, estão nítidas as influências dos muralistas mexicanos Orozco e Diego Rivera, Picasso, Portinari, Di Cavalcanti e outros guerreiros das telas, mármore e bronze.  Foi impossível não ficar paralisado na frente dos quadros de Guayasamin, sorvendo cada detalhe dos seus traços, não sendo difícil também ser levado às lágrimas. Pena mesmo é que não foram melhor divulgadas nem ficariam ali por mais tempo, pois são patrimônio artístico do Equador e precisavam voltar para casa.  Só isso já dá uma dimensão do que é essa casa curitibana onde se respira cultura e sensibilidade a flor da pele. Mas havia muito mais. As fotos do peruano Martin Chambi, em preto e branco, feitas com uma câmera rudimentar, de fole, são épicas e remetem ao esplendor e miséria do altiplano andino. Bastou trocar de sala para entrar num mundo totalmente diferente e menos angustiante, com as 25 telas de artistas que retratam a serenidade do porto de Paranaguá e seus navios docemente ancorados. Ou, em outra, na vida mansa e acolhedora do interior mineiro, com aquele estilo puro e inocente, gostoso, cheirando a café com bolo de fubá.
Visitar o Museu Oscar Niemeyer, enfim, é uma necessidade das almas famintas por ternura. Vale a viagem.
Os funcionários são gentis, a organização impecável, banheiros que brilham, há uma cafeteria confortável e irresistível, livraria e loja esbanjando classe e bom gosto. Tudo de primeiríssimo mundo.
Atravessar o túnel branco, em curva, que liga o prédio ao anexo “Olho”, parece uma caminhada pelo espaço sideral. Até quem detesta lugares confinados, como eu, ali nada sente, exceto deslumbramento.
Em ampla área estão as maquetes das principais obras de Niemeyer pelo Brasil e mundo. Vale a pena demorar ali, conferir cada uma, em detalhes, e ler cada texto onde o próprio artista do concreto armado explica sua paixão pelas curvas que marcam intensamente seu estilo. Inspiração que vem de várias fontes, incluindo as sedutoras curvas das mulheres belas. A catedral de Brasília, obra de um ateu assumido, quem diria, com sua estonteante beleza lembram mãos que se erguem em súplica ao céu. Niemeyer é ousado, atrevido, desafiador. Mas acima de tudo um poeta. Sorte nossa que é também brasileiro!

      

Um comentário:

  1. Caro jornalista Milton Saldanha!
    Também considero auspicioso saber que o nobilíssimo Oscar Niemeyer é nosso patrício!!!!
    Caloroso abraço! Saudações niemeyerianas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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