segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Revendo o velho baú...

Às 6 da tarde um jornal que saiu pela manhã já é velho. No dia seguinte, então, já virou sucata. Agora imaginem um jornal de 30 ou 40 anos passados...
Pois é, fui revirar em meus arquivos para achar uma matéria produzida em 1976, no “Estadão”, como tema de uma crônica que logo vocês poderão ler aqui neste espaço. Numa pilha de recortes, revistas, fotos, cartas, telegramas, telex, o diabo, acabei fazendo uma ligeira viagem no tempo e retornei aos anos ancestrais da minha carreira como jornalista. Reencontrei matérias que nem lembrava mais que tinha feito, e olha que deram muito trabalho e na época me encheram de orgulho. Reencontrei também personagens que sequer imagino se continuam vivos, onde estariam, fazendo o que.
É um arquivo valioso da minha vida, mas quando eu não estiver mais neste mundo alguém jogará isso no lixo, como papel velho. Como aconteceu com aquela montanha de jornais e revistas onde escrevi e vivi grandes emoções. No mesmo dia multidões de leitores usaram para embrulhar qualquer coisa...
Esse é o lado frustrante do jornalista. Sua vaidade só encontra satisfação em algumas horas, esporádicas. Ele se mata trabalhando, para logo ser esquecido. Ao contrário do escritor, e aqui falo apenas do grande escritor, o autor das magistrais obras, que ficam famosas e duram séculos sendo reeditadas. Um Euclides da Cunha será lido para sempre. Já os grandes jornalistas de “O Cruzeiro”, “O Jornal”, “Tribuna da Imprensa”, “Diário de Notícias”, “Última Hora”, etc, por exemplo, nos anos 50 e 60 tão famosos como os atuais grandes Globais, quem hoje lembra deles? Só mesmo quem conheceu, e muito raramente, claro. Façamos um rápido teste: você já ouviu falar em Assis Chateaubriand? David Nasser? Carlos Lacerda? Helio Fernandes? Samuel Wainer? Luciano Carneiro? Mário de Moraes? Odilo Costa Filho? Péricles? Carlos Estevão? Se for jovem, com certeza não. No entanto, alguns destes nomes pontificavam com poder e força, se bobear até influenciando em importantes decisões nacionais. O que resta, então, para nós, simples mortais, quase anônimos? É o destino também traçado para tantas celebridades de hoje, que se julgam imortais, mas serão esquecidas na primeira curva da estrada.
É por isso que convém refletir sobre a inutilidade das grandes e pequenas patifarias que alguns praticam durante sua vida. Para que servem? Nosso trânsito neste mundo é extremamente rápido, essa é a verdade. Vamos sumir como fumaça. Então não vale a pena ser canalha. Melhor que fique algum fiapo de lembrança, por menor que seja, mostrando a grande alma que habitou nossos frágeis corpos.

Um comentário:

  1. Caro jornalista Milton Saldanha!
    Creio que você tomou uma sábia decisão ao criar este imperdível espaço cibernético, porque depois do seu desaparecimento ninguém poderá jogar no lixo o arquivo onde está registrado o que sua brilhante verve nos legou, porque aos poucos você poderá publicar aqui este precioso arquivo e claro outros escritos que virão!!!!
    Lembre-se, você é um jornalista do bem e sempre mantém um relação de lisura e transparência com seus leitores!!!
    Como sempre não dá para ficar indiferente para seus escritos!!!! A crônica de hoje desvela como é dificílima nossa condição humana no que tange ao esquecimento que estamos sujeitos depois do nosso desaparecimento...
    Caloroso abraço! Saudações íntegras!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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