sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Drogas

Pegaram a turma da Cracolândia.
E quando vão pegar os outros?
Até dá a impressão que o Brasil das drogas está todo concentrado ali na Cracolândia, na região da Luz, em São Paulo. Nada contra as ações para restaurar a cidade e a dignidade perdida daqueles infelizes do crack. Mas tenho uma pergunta: e o que será feito para acabar com as drogas no meio da classe média alta, em cidades como Brasilia, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e outras do mesmo porte? O que será feito para acabar com as drogas nas universidades públicas e privadas? No meio publicitário? Nas redações dos grande jornais e revistas? Nas TVs? Nos palácios e mansões? Nos shows de rock? Em Brasília, todo mundo comenta que corre droga no prédio do Congresso. Ou alguém vai ser cínico a ponto de afirmar que é mentira e isso não existe? Aliás, é essa classe média que, com seu alto consumo, sustenta para valer o tráfico, portanto o crime organizado. Porque se depender de muita gente chamada de careta, entre as quais me incluo, os traficantes e os bandidos a serviço deles morrerão de fome, por falta de clientes. No jornalismo, por exemplo, são conhecidos vários figurões viciados em cocaína. Nem sob tortura eu citaria nomes, mas que eles existem, ah disso não tenham dúvidas. Um deles, muito conhecido, numa grande redação, todo mundo sabia quando ia para o banheiro dar uma cheiradinha. Depois esses caras vão participar de entrevistas e mesas redondas que discutem o combate às drogas. O sujeito precisa ser muito cara de pau. Isso apenas reflete a hipocrisia generalizada. O problema da Cracolândia, diferente das mansões e palácios, é que ela é habitada por miseráveis, fede a urina e fezes. É repugnante.
Os figurões e madames do pó vivem em locais com odor de jasmim. Seus carros são belos, protegidos por blindagem e vidros pretos. Sua roupas são caras. Só que, por dentro, na cabeça e nos atos, em nada diferem daqueles miseráveis da Cracolândia, tratados na porrada, como se isso fosse solução, e como se eles fossem os únicos.


6 comentários:

  1. Prezado jornalista Milton Saldanha!
    Você trouxe à baila um assunto palpitante e cruciante. Sua crônica desvelou sem titubear que quem sempre "paga o pato" são os desvalidos, enquanto os "intocáveis" não são importunados.
    É evidente que as ações incisivas da polícia são válidas, mas no "mundo das ideias" deveria reprimir com a mesma eficácia nos demais segmentos sociais.
    Caloroso abraço! Saudações desconfiadas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Caro Milton.
    Já passava do tempo para as autoridades tomarem medidas para higienizar as ruas do centro e combater a criminalidade, que decorre em função das drogas. Entretanto, ainda resta saber qual o destino que tomarão esses milhares de mortos vivos que lá se instalaram e não têm para onde ir?
    Quanto aos ricos e poderosos, pelo menos têm um teto e condições para tratamento, se quiserem. O que me preocupa é o que vão fazer com essas pessoas que ocupam aqueles cortiços da região central e se vão receber do Estado o tratamento e encaminhamento adequados para seus problemas. Porque creio que nenhum desses marginalizados sente-se feliz na condição em que se encontra e só são, como vc muito bem aponta, vitimas de um sistema hipócrita.

    Aproveito para parabeniza-lo pelo número de acessos alcançados até o presente, que nada mais são que o resultado da sua competência, experiência e seriedade profissional e do respeito no trato com o leitor.
    Desejo-lhe muito mais sucesso e saúde para prosseguir oferecendo- artigos para a reflexão e análise de problemas que afligem nosso cotidiano.
    Obrigada.

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  3. Obrigado professor João Paulo de Oliveira, mais uma vez, e obrigado Cristina. Suas intervenções complementam minha crônica indignada. A mesma classe média, repito, que tampa o nariz quando passa perto da Cracolândia, sustenta com seu consumo a bandidagem. E depois reclama.
    Abraços!
    Milton Saldanha

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  4. Prezada Cristina: ainda sobre sua inquietação, quanto ao destino daquelas pessoas, eu tenho uma sugestão muito clara: bastaria que Prefeitura e Governo do Estado, juntos, fizessem uma clínica de recuperação, onde eles ficariam por determinado prazo (conforme cada caso) e depois seriam incorporados em frentes de trabalho, com treinamento. Por exemplo, limpeza de ruas e canteiros públicos; pintura de guias; capinagem em parques, etc. E poderiam ainda fazer testes de aptidão, porque certamente há pessoas com habilidades para outra tarefas. Perto do que é desviado na corrupção, o custo disso é irrisório. Basta querer fazer. Nessa clínica eles teriam alimentação, apoio psicológico, banho obrigatório, receberiam roupas por campanhas de doação, etc. Sentindo-se novamente gente, qualquer um aceita ajuda e parte para uma vida melhor. Porque ninguém gosta de sofrer na rua.
    Abraço!
    Milton Saldanha

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  5. Apoiadissimo, Milton! Sua sugestão é ótima e poderá ser levada a efeito se houver vontade politica, para resolver efetivamente o problema dessas pessoas, em vez de simplesmente dispersa-las do local.
    Quem sabe o Governo do Estado, em parceria com a prefeitura, adote essa idéia, transformando-a num grande programa de inclusão social,que viria a favorecer e melhorar a vida de todos.
    Isso é o que deve ser feito, pois de outra forma só será jogar a sujeira para baixo do tapete.
    Forte abraço.

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  6. Caro jornalista Milton Saldanha!
    No meu viés, sabe por que esta suas ideias irretocáveis não são colocadas em prática pelos gerenciadores do erário público?!...
    Porque não seria possível liberar verbas vultuosas...
    Caloroso abraço! Saudações simplificadas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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