quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (3)
Há muitos anos, conversando com o jornalista e escritor Fernando Moraes, num encontro por acaso no aeroporto Santos Dummont, no Rio, enquanto esperávamos a chamada para embarque ele me contou algumas das suas aventuras como repórter de guerra. Sem nada de heroísmo tolo, falava era do medo que passou. Quando jurou ali mesmo, perto do front, nunca mais pisar numa guerra. Fernando tinha conseguido uma entrevista com um grande líder da guerrilha sandinista, na Nicaragua. Só que não poderia ficar sabendo onde ficava o esconderijo, por razões de segurança. Foi colocado na caçamba de um furgão, com um capuz. Por último, para seu espanto e apavoramento, lhe entregaram uma metralhadora. “Mas eu não sei atirar e não sou guerrilheiro”, protestou. A resposta: “Aqui não se trata de saber ou não atirar, ou de ser ou não guerrilheiro. Se o exército nos atacar, arranque fora o capuz e saia atirando. Será o único jeito de salvar sua vida”. Putz! Fernando me disse que fez apavorado aquela desconfortável viagem, sacudindo em buracos, e só pensando em sua filha pequena. Realmente, que eu saiba, nunca mais voltou em outra guerra.

3 comentários:

  1. Caro jornalista Milton Saldanha!
    Estou aqui na plateia aproveitando a oportunidade de ter conhecimento do seu viés sobre os percalços do seu árduo/fascinante ofício!!!!
    Aproveito o ensejo para indagá-lo:
    Na sua longa e profícua carreira jornalística, pautada pela lisura e transparência, como você reagiu e reage quando percebe que o entrevistado é um mentiroso?
    Em todos os ofícios existem os bons e maus profissionais. Como é lidar com um parceiro de ofício, que seria capaz de vender a mãe num mercado persa para conseguir um furo de reportagem?
    Caloroso abraço! Saudações inquiridoras!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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  2. Caro João Paulo; lidar com safados e mentirosos é o que a imprensa faz a maior parte do tempo. Basta cobrir, por exemplo, câmaras municipais, Congresso Federal, palácios governamentais, etc. E também gabinetes de alguns empresários que fazem os trambiques com os políticos. Não há como evitar a palavra de canalhas investidoa de algum tipo de poder. Aí vai entrar a experiência e talento do repórter para lidar com isso. Você pode fazer uma entrevista com um grande mentiroso e deixar claro ao leitor que se trata tudo de uma grande mentira. Nas perguntas, na linguagem, na malícia do título, etc. Quem é tarimbado sabe fazer isso. Obrigado por sua pergunta e grande abraço!
    Milton Saldanha

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  3. Caro jornalista Milton Saldanha!
    Agradeço a pronta e irretocável resposta!!!
    Ufa!!! Que alívio!!! Eu sempre soube que você é da turma dos intocáveis jornalistas que, nunca, jamais, em tempo algum, ousaria, nem em pensamento, enganar seus leitores!!!!
    Caloroso abraço! Saudações transparentes ou melhor dizendo desmascaradas e melhor ainda tarimbadas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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