sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Poder X Povão

Linguagem a serviço da sacanagem
A língua, por mais bela que seja, é também um instrumento de opressão dos poderosos. Os exemplos mais visíveis e próximos da nossa realidade estão na linguagem jurídica e do mundo dos negócios, principalmente economia e finanças. Tente entender determinadas sentenças de juízes, ou a terminologia rebuscada que advogados adotam numa simples petição. Será um desafio. Ou tente entender a linguagem de certos economistas e financistas. Estes últimos, a serviço da roubalheira dos bancos, criam termos tirados de Marte e que vão parar em seu extrato bancário. Você lê e não entende no que o banco está roubando um simples real, que ninguém reclama porque fica mais caro fazer isso, e que quando somado aos milhões de correntistas será traduzido em bilhões de reais. É o financês a serviço da pilantragem sem fiscalização e sem controle do Banco Central. Ora, caberia ao Banco Central criar uma terminologia simples, que qualquer pessoa entenda, e de uso obrigatório por todos os bancos. Sim, cada banco cria seu financês, e aí a confusão na sua cabeça só aumenta. Nesse uso abusivo da linguagem há também coisas cômicas. O melhor exemplo é na área de seguros. Aquela prestação que você paga eles chamam de prêmio. Só pode ser piada. Prêmio a quem, cara pálida? Trabalhei muitos anos na imprensa como jornalista de Economia. Tive que ler muito sobre isso. E sempre gostei de comparar dois economistas: Celso Furtado e Delfim Netto. Celso Furtado, a serviço do povo, usava uma linguagem de clareza total. Qualquer modesta dona de casa pode entender seus livros, que nem por isso deixam de ser completos e abrangentes. Já o Delfim Netto, eternamente a serviço dos ricos, usa uma linguagem rebuscada e inacessível aos mortais. Ou seja, enrola. E assim encobre todas as sacanagens da máquina capitalista. Nada, em economia e finanças, seria incompreensível se não existisse essa linguagem complicada. O problema é descomplicar: todo mundo fica sabendo como e onde é roubado.

Um comentário:

  1. Caro jornalista Milton Saldanha!
    A função precípua da linguagem escrita é fazer com que o leitor entenda com clareza o que o autor quis dizer. É evidente que a competência leitora não se adquire de supetão... O fascínio da escrita está no fato do leitor ter outros viéses para o que leu, mas não devemos esquecer que também a função da escrita está em normatizar a vida em sociedade, através de Leis, regulamentos, contratos, que nestes casos não devem de modo algum deixar o leitor atarantado, sentindo-se um analfabeto funcional.
    Caloroso abraço! Saudações interpretativas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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