quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Jornalismo

Durezas da vida de repórter (2)
Na crônica anterior contei meus fracassos. A gente aprende mais com eles do que com os sucessos. Mas não pensem que foram só estes. Houve mais, claro. E outros me aguardam, enquanto trabalhar. Por outro lado, quem rolar este blog vai encontrar também minhas histórias de sucesso. Onde quero chegar? Na conclusão simples de que ninguém é diferente de ninguém. Somos todos iguais, nos erros e acertos. O que muda é a capacidade de cada um de entender isso. E a percepção que cada um tem de si próprio. Tenho amigos e amigas, e parece-me isso mais acentuado nas mulheres, que me dão a impressão de nunca terem errado na vida. Elas passam isso, com suas cobranças e por vezes teimosias. Não estou depreciando as mulheres, pelo contrário, há muito tempo acho que na média geral são mais capazes do que nós, homens. Além de mais belas... Quando montei equipes em redações sempre tive mais mulheres do que homens. Ou porque já conhecia o trabalho delas, ou porque nos testes se saiam melhor. E ali não tinha essa história de sofá. Isso nunca foi do meu caráter. Nem delas, minhas colegas de grande categoria profissional.
Fui chefe em muitas redações. Várias vezes contra minha própria vontade, porque sempre amei ser repórter. Mas a direção me queria lá, onde ganhava mais e tinha também suas vantagens, claro. Mesmo assim eu sempre achava uma brecha e saia para fazer matérias. Inclusive para não perder a prática. Por isso sempre tive dificuldade de entender como alguns colegas exerciam chefias sem jamais terem passado pela reportagem... pelo trabalho de rua, da chuva, do frio, do desconforto de esperar algo sentado em calçadas, sem um banheiro limpo por perto, onde havia só botequins. Ou de ter que desvendar uma situação complexa e desafiadora. Ou fazer falar um figurão que se recusava a isso. O gosto maravilhoso de dar um furo, e este tive, não poucas vezes. E vai por aí. Mas chefe que não foi repórter? Que me desculpem, mas sem visão do que é o trabalho de campo ninguém pode desenvolver critérios de cobrança e avaliação. No Estadão, o jornal de maior porte onde trabalhei, havia dúzias de editores que nunca foram repórteres. Sempre achei isso uma falha grave. Os caras deveriam no mínimo ter feito um estágio na reportagem, antes de sentar em suas confortáveis cadeiras. E assim, no caso de alguns, teriam aprendido a respeitar mais seus repórteres. No Estadão, com muito orgulho, fui chefe da conceituada Sucursal do ABC, onde montei minha própria equipe, aproveitando também pessoas que lá já estavam. Foi um dos períodos mais ricos da minha carreira, acompanhando todo o surgimento do movimento metalúrgico, com suas grandes greves, e o surgimento do Lula. A equipe tinha alto espírito competitivo, queria dar banho na concorrência, e quase sempre conseguia. Sobre a Folha de S.Paulo, então, era uma festa, porque eles sequer tinham uma sucursal lá, como a nossa. Infelizmente, porque isso teria sido muito bom para o mercado de trabalho. Tinham que mandar gente da sede, na Capital, que não conhecia a região e seus segredos. A exemplo de todos os chefes anteriores da sucursal, entre eles os excelentes jornalistas Dirceu Pio e José Maria Santana, também dobrei função, sendo chefe e repórter. Porque a gente decidia assim, ninguém mandava.

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