terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Religião

Abuso e ilegalidade
nas TVs e rádios
O que mais chamou minha atenção na recente entrevista de Boni no Roda Viva, da TV Cultura, foi este comentário: as TVs não poderiam estar vendendo espaço para uso religioso. Porque são uma concessão do poder público, e a lei não permite isso. Boni, uma autoridade no tema TV, falou. Mas infelizmente os entrevistadores se fizeram de surdos, pularam rápido para outro tema. Claro, ninguém quer se queimar, porque amanhã pode precisar de emprego... Quase tudo, em rádio e TV já está nas mãos de padres e pastores.
Boni, que nunca foi nenhum radical em nada na vida, apenas se dedicou muito e apaixonadamente ao trabalho, tocou numa questão crucial. Mexeu na ferida.
Edir Macedo, por exemplo, além de já contar com sua Record e com espaço na Gazeta, está tentando, faz tempo, ocupar horários no SBT. Nas demais TVs, na madrugada, nem filme existe mais, só se vê pastores pregando. Ou seja, as TVs estão sendo cada vez mais transformadas em extensões eletrônicas das igrejas, quando deveriam isto sim cumprir sua função social, educativa, e também de entretenimento.
Mesmo sendo ateu, assumido e sem medo de me declarar, nada tenho contra as religiões. Se quisessem proibir alguma eu seria o primeiro a protestar junto com eles. Todas devem ter o direito de existir e precisam ser respeitadas. Mas para isso existem os templos. As pessoas vão lá, espontaneamente, seguindo suas opções e exercendo sua liberdade de culto. Essa invasão ilegal das nossas casas, através da TV, é que não tem fundamento. Inclusive erra a TV Cultura, estatal, quando transmite missas. O que não falta por esse país inteiro é templo católico. Qual o sentido de ainda incluir missas na TV? O Estado é laico, não existe religião oficial desde o fim do império. O mesmo se aplica aos evangélicos. Há igrejas por toda parte. A TV não tem que cumprir esse papel, sua finalidade é outra.
O que se vê, na realidade, é uma briga de marketing. Todas querem convencer, algumas até pela intimidação dos ignorantes. E usam a TV para isso. Esse abuso teria que ser proibido. As pregações podem ser feitas livremente em praça pública, como já acontece; dentro dos templos; através de jornais próprios de cada religião, etc. Mas usar TV e rádio é um absurdo, porque religião é uma questão pessoal de cada um, de consciência e liberdade. Não pode ser empurrada goela abaixo, nem vendida como sabonete. Muito menos com chantagens emocionais, como essas que vinculam dízimos à obtenção de graças divinas. Isso é crime contra a boa fé popular, previsto em lei.
O Congresso não vai peitar essa questão, porque daquilo lá nada se espera. Além de que já existe até bancada evangélica, outro absurdo, que denota um projeto de poder. E se esse poder crescer eles vão impor ao conjunto da sociedade todos os seus dogmas e princípios, de forma ditatorial.
Volto a repetir: defendo o direito de existir de todas as religiões, inclusive porque não existe povo de Deus. O rebanho mundial é um só. Mas nenhuma pode impor seus princípios a todos, nem burlar as leis ostensivamente, como ocorre. Muito menos invadir a privacidade dos nossos lares contra nossa vontade.
 

4 comentários:

  1. Caro Milton, concordo plenamente com suas palavras.
    Há muito não perco tempo vendo televisão, porque não encontro mais nada interessante para assistir. As emissoras deixaram-se dominar pelo capitalismo religioso e pela idiotice, apresentando baixarias e gritarias religiosas. Um verdadeiro deboche à inteligência dos espectadores.
    abços.

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  2. caro Milton: concordo com suas observações. O que sinto é que está em gestação um novo projeto de idade media e inquisição com a chegada ao poder dos evangelicos, que em termos de cabeça, são piores que os catolicos de 1400.

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  3. Isso sem contar que os "exorcismos" s~ao de assustar! Uma vez acordei num s'abado de manh~a com gritos conclamando" Sai satan'as!". Pulamos da cama e encontranmos nossos dois filhos , ainda pequenos, olhos grudados na TV! Para desanuviar, comecamos a comentar , tentando demonstrar tranquilidade, que aquela novela de monstros era muito mal feita, que os atores trabalhavam muito mal... E perguntamos: vamos trocar de canal? Foi uma situacao contorn'avel. Mas quantas crian cas n~ao passam por isso?

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  4. Caro jornalista Milton Saldanha!
    É por isto que sou um miltoniano de carteirinha, porque você sempre coloca em pauta temas cruciantes sem jamais padecer da "cegueira branca"!!!
    O que me deixa mais assustado é constatar o poder avassalador destas religiões que usam os meios de comunicações para perpetuar o obscurantismo e se enriquecerem cada vez mais...
    O que nos espera?!...
    Caloroso abraço! Saudações inconformadas!
    Até breve...
    João Paulo de Oliveira
    Diadema-SP

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