Parar ou continuar?
Tenho um jornal impresso, com 17 anos. Trabalhei em jornalismo impresso por mais de 40 anos. Aí começo a ler sobre os dilemas desse tipo de jornalismo, com a migração para os sistemas on line, tablets e outros bichos. Corre um frio pela espinha. A sensação de que algo pode mudar, ou vai mudar. Com revistas é diferente. É outra estrutura de informação. Os jornais terão que virar revistas diárias, se quiserem sobreviver. Só que isso é mais complicado. Fazer um jornal é mais rápido (eu não disse mais simples) que uma revista. A diferença é mais ou menos assim: o jornal informa rapidamente; a revista informa lentamente. Ou seja, a revista aprofunda o jornal. O impulso de querer parar tudo e usufruir de uma tranqüila aposentadoria começa a ficar tentador. Por mais estranho que pareça, é provável que sem o jornal, portanto sem trabalhar, me sobre mais dinheiro no bolso. E mais tempo para usufruir dos anos que me restam a bordo deste planeta. Viajar (sem compromisso com trabalho e prazos), dançar, voltar a freqüentar teatro, ver mais filmes, caminhar e fazer turismo em minha própria cidade, visitar amigos, experimentar restaurantes sem precisar ficar consultando o relógio e a agenda. Tudo isso soa maravilhoso, mas tropeça no medo da frustração, do sentimento de inutilidade, do vazio que é o sofá depois de praticamente meio século produzindo e discutindo idéias, fatos, comportamentos. É uma decisão dura, mas pressinto que em algum momento poderá, ou terá, que acontecer. Não é improvável que os leitores também se cansem. É muita informação circulando, com predomínio maciço da informação de baixa qualidade, é bem verdade. Quando lembro que uma cidade como Porto Alegre chegou a ter cinco jornais diários... Hoje isso seria impossível, com o avanço da rede web. Sobrou praticamente um, a Zero Hora, que domina o mercado. O mesmo aconteceu no Rio, sobrou O Globo. E todos já discutem o futuro. O The New York Times, como sempre, está na vanguarda, revendo seu modelo e experimentando o serviço pago on line. Ainda sem nenhuma certeza de nada. O conflito íntimo começa a se instalar neste escriba. Parar ou continuar? Parar tem seus encantos, mas continuar ainda tem sido imperativo. O jornal Dance, é inegável, me proporcionou muitas alegrias esse tempo todo, além de me abrir portas mágicas. Que dilema...
Caro jornalista Milton Saldanha!
ResponderExcluirEstas fantásticas tecnologias, que mudaram radicalmente nosso modo de vida, também nos deixam propensos a ficar no dilema que você colocou em foco. A cruciante questão é aderir ou não...
Caloroso abraço! Saudações indecisas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Diadema-SP